…e na estrada de Santos eu não vou mais passar

Eu não falo do pai da minha filha. Nunca. A não ser com a minha filha. Eu havia decidido que um dia falaria caso tivesse certeza absoluta de que daríamos certo. Hoje me sinto à vontade em falar por ter a certeza de que somos absolutamente errados.

Não somos pessoas maravilhosas. Não juntos. Com outras pessoas, talvez. Não nos odiamos. Nem nos amamos. Separados somos legais, sorrimos, e às vezes até esquecemos o porquê não damos certo. Juntos despertamos o que há de pior em nós: a incompreensão, a falta de paciência, o egoísmo. Os dois se sentem vítimas de uma vida que não escolhemos. Mas, sei também que esse é apenas mais um argumento rancoroso, já que hoje sou infinitamente mais feliz como mãe, e nunca vejo minha vida como fruto de um erro, mas sim como uma dessas surpresas que Deus faz para nós.

Estou tranquila, assistindo tudo daqui de cima do muro. Não foi uma decisão… Apenas percebi que não sinto saudades de nada. Nenhuma paixão, nenhum momento muito feliz, nenhuma cumplicidade… Somos duas pessoas que não se conhecem. Há respeito, carinho também, claro, não somos insensíveis e temos um amor em comum. No entanto, não me sinto mais vítima. Acredito que tivemos apenas um momento certo escrito em linhas tortas.

Arrogância

Sou uma pessoa que não aceito críticas. Não pago essa de que estou aqui para aprender. Raramente faço algo sem pensar. Raramente não vi outro lado. Raramente mostrei algo que não tinha certeza de que era bom. Ou ruim. Odeio conselhos, quando não peço. Eu sou inteligente. Eu tenho opinião. Eu sou decidida. Eu sou coerente. Eu sou justa. E incomodo. Incomodo, porque sempre tenho razão quando digo que alguém é incompetente. Sempre tenho razão quando acho alguém medíocre. Incomodo por não ser quem gostariam que eu fosse, quando falam comigo olhando para baixo, enquanto deveriam olhar para cima. Não sou humilde com minhas qualidades e tampouco com meus defeitos, porque sou uma daquelas poucas pessoas que sabem quem realmente é. Não sei de nada da vida, mas conheço as pessoas. Minha instabilidade emocional é fruto de uma ignorância coletiva, porque em terra de cego, caolho é apedrejado.

Young

Eu? Eu não sou somente boa. Sou uma pessoa muito bonita. Generosa e linda – e quem aguentar, aguentou. Como prêmio, terá meu amor. Saberá da minha verdade. Dará boas gargalhadas. Mas terá que suportar uma boa dose daquilo que sinto. Pois, apesar de tudo ser diversão, nada é simples. Nada é pouco quando o mundo é o meu.

Fernanda Young
(em “Aritmética”)

O chato

 

O chato é aquele que sabe tudo. É aquele que diz que você deve se amar primeiro para que outras pessoas te amem, num dia que você tá muito puto. Ele é aquele que não importa sobre o quê, mas tá sempre te contrariando. O chato é aquele que acha tudo um tédio e em qualquer lugar te chama para ir embora. Outro chato também é aquele que sempre sabe o que você deve fazer, e usa frases como “se fosse comigo seria diferente”. Os de bem com a vida também são chatos. Nada mais irritante do que quem é muito feliz todo dia. Até porque mentirosos são os mais chatos. Frases como “desculpa, tô sendo sincera” além de chato é complicado, porque preciso responder que “desculpa, mas não te perguntei porra nenhuma”, o que acaba ficando super chato. O chato não percebe que incomoda e nem sabe que é chato. Enfim, o chato vai ser sempre um chato e só vai morrer depois de você, até porque ele sempre te disse que todas as merdas que você comia um dia iam acabar te matando. No dia do seu enterro ele olhará pro seu caixão, e chorando vai dizer: eu bem que avisei. Chaaaaaaaaato.

Por uma vida menos ordinária

Gente, quando alguém te contar uma novidade boa, divida aquela alegria NAQUELE EXATO MOMENTO. Às vezes a gente fala: “Vou para Europa!”, e a pessoa, ao invés de achar muuuito legal, uhhhuuuu, é isso aí, pergunta: “Por quê? Tá rolando alguma promoção?” ou “Olha o Air France, hein?”.

Não, eu não vou para Europa, mas se fosse pra casa do cara***, seria a mesma coisa.

Que me compre

Estou sozinha no meu apartamento ouvindo Norah Jones. A taça de vinho, já pela metade, me acompanha, mas penso em trocá-la por um delicioso chocolate quente. Bullshit. A TV está ligada no Discovery Kids, meu copo de Coca está vazio, estou louca para beber mais, e eu nunca trocaria por um copo de Nescau. Não lavo o cabelo há uns 3 dias, tô vestida com a roupa mais traste ever e deixei a luz do banheiro acesa para ver se me incomoda e vou logo lá dar a faxina que está precisando.

Vejo como as pessoas criam sua imagem. Talvez eu faça isso também, não sei. Sim, provavelmente faço. Posso usar as palavras para ter uma imagem que não tenho. Talvez eu não seja tão irritada ou mal humorada quanto pareço. Talvez eu queira parecer temperamental para esconder total fragilidade. Não sei. As pessoas se vendem como valiosas: vejam como sou estudada, vejam como sou elegante, vejam como sou uma pessoa atarefada, vejam meus hábitos aprimorados, vejam como sou sexy naturalmente, vejam como crio uma cena elegante e faço parte dela, vejam, vejam, vejam tudo que eu quero ser para vocês.

Não sei que imagem vendo para as pessoas, mas… quem não me conhece, que me compre. Se não gostar, faça como eu: troque ou jogue fora. Só não espere seu dinheiro de volta.

Gentileza gera gentileza

Quando eu era da 5ª/6ª série a turma tinha uma disciplina chamada “Educação para o lar” … A professora nos ensinava a arrumar a mesa (aos homens também, que fique claro), dobrar lençóis… que menino fala “obrigado” e menina “obrigada”… lembro também no dia que nos ensinou a escrever bilhetes, e que nunca poderíamos escrever cartas pessoais com caneta vermelha ou verde. Com licença, por favor, desculpa, obrigado/a eram palavras obrigatórias. Enfim, o tempo foi passando, e estudiosos chegaram à conclusão que aquilo era ultrajante à educação, e aboliram a disciplina.

Este ano foi preciso criar um projeto na escola chamado “Gentileza gera gentileza”, na esperança de conscientizar aos alunos. O professor vai ter que incorporar esse projeto no seu planejamento, porque o maior problema enfrentado nessa relação do aluno com a escola é a falta de educação que deveria vir do lar.

E nem vou ganhar um extra por isso.

Tomô?

Escolhas

Vocês lembram daquele sujeito que reapareceu do nada, me pedindo desculpas pelo que havia feito comigo no passado blá bla bla? Está há uma semana tentando me convencer que quer n-a-m-o-r-a-r com a minha pessoa. Sério. E eu acho isso tão engraçado, porque há 500 anos não me fazem uma proposta dessa.

Tô contando isso aqui pra ver se dá zica, e não ter que fazer escolhas. Sei que tenho tendência à autosabotagem, que nunca acho que é o momento certo pra nada, mas não sei o que acontece lá no meu plano astral.

Tô sozinha faz tempo. Sozinha assim de não querer ninguém por perto, ao mesmo tempo que às vezes sinto falta de companhia para dormir. Não me animo com novas relações (mesmo com as velhas), porque me dá trabalho… Meus horários dependem da minha filha, e meu ânimo no final do dia sempre pede cama e um pouco de silêncio.

Por que eu deixaria voltar para minha vida tão equilibrada alguém que já me desequilibrou no passado? Devo arriscar reviver uma história, só para me sentir viva de novo? Ou devo fazer o que ultimamente tenho feito de melhor: ouvir a razão e dormir em paz?

Ele não me intimida. Não tenho medo de morrer de amores e me deixar levar… Mas detesto fazer péssimas escolhas, e ter poucas oportunidades de trazer o que é valioso para minha vida.