Eu não falo do pai da minha filha. Nunca. A não ser com a minha filha. Eu havia decidido que um dia falaria caso tivesse certeza absoluta de que daríamos certo. Hoje me sinto à vontade em falar por ter a certeza de que somos absolutamente errados.
Não somos pessoas maravilhosas. Não juntos. Com outras pessoas, talvez. Não nos odiamos. Nem nos amamos. Separados somos legais, sorrimos, e às vezes até esquecemos o porquê não damos certo. Juntos despertamos o que há de pior em nós: a incompreensão, a falta de paciência, o egoísmo. Os dois se sentem vítimas de uma vida que não escolhemos. Mas, sei também que esse é apenas mais um argumento rancoroso, já que hoje sou infinitamente mais feliz como mãe, e nunca vejo minha vida como fruto de um erro, mas sim como uma dessas surpresas que Deus faz para nós.
Estou tranquila, assistindo tudo daqui de cima do muro. Não foi uma decisão… Apenas percebi que não sinto saudades de nada. Nenhuma paixão, nenhum momento muito feliz, nenhuma cumplicidade… Somos duas pessoas que não se conhecem. Há respeito, carinho também, claro, não somos insensíveis e temos um amor em comum. No entanto, não me sinto mais vítima. Acredito que tivemos apenas um momento certo escrito em linhas tortas.