Querido Diário #61
Ora, meu querido (um dia vou te dar um nome, ok?), não estou separando o joio do trigo. Existem os que fazem a quarentena e os que não fazem. Até aí todo mundo concorda… menos os que não fazem, porque, né? Só estão indo ali rapidinho fazer um negocinho rapidão. Mas, mesmo nós, que estamos há todos esses meses em casa, gastando com serviços mais caros para não sairmos, e se virando nos 30 para tornar nosso lar em local de trabalho, lazer e descanso, há casos e casos.
Graças a Deus Marina está mais independente, mas a casa não é autolimpante. E minha filha adolescente não é um caso raro de imprestabilidade doméstica. É uma mobília que tenho que mandar sair do lugar. Como também não sou nenhuma Monica Geller, tem dia, outro dia e outro dia que não tô afim. Uma hora eu arrumo, outra hora eu lavo, passar jamais. Já falei aqui que ela detesta o quarto dela. Deve ser aquela teoria fofa de ser a separação simbólica da mãe. A verdade é que é um quarto cheio de bagunça acumulada, que eu poderia fazer o quê? Um quarto de jogos, uma academia (Tô imitando filmes americanos) ou, quem sabe, uma biblioteca pra mim. OU alugar um apartamento bem mais barato de um quarto só, mas a princesa diz que preciiiiisaaaaa do espaço delaaaaa. Ah, gente. Ela monopoliza a sala, e eu me recolho à insignificância do meu quarto. E nem falei do banheiro, que com certeza tem um dispositivo que na hora que eu entro, toca lá na sala, porque Marina corre jurando que precisa muito estar comigo ali naquele exato momento. NÃO IMPORTA o que vou fazer lá. Você aí achando que é seu filho pequeno. Né, não. quando penso que estou tomando um banho… eu, meus pensamentos e o barulho lindo da água, minha paz é estuprada com alguma urgência, dessas para puxar assunto que não interessa. E falei da gata? Ela também adora o quentinho do vapor. Quando saio do banho, ela está lindamente deitada no tapetinho e tenho que botar os pés molhados no piso frio, para não incomodar a outra princesa.
Home Office? Detesto. Se você é funcionário público, tá me entendendo. Se trabalha com educação, tá querendo me dar um abraço, né, minha filha?
E quem tem convivido com você todos esses dias? É seu marido? Sua esposa? Esse estresse todo pode afetar o relacionamento ou não… Mas, sexo vocês têm, né mesmo? No melhor dos cenários (mesmo com bagunça de criança, Home Office e tudo mais), há divisão de tarefas. Veja bem: na melhor das hipóteses, porque a gente sabe que há uma forte possibilidade de você ter um filhinho da mamãe, que não faz porra nenhuma, e ainda reclama. Mas, voltemos à melhor das hipóteses: trocam ideias, dividem problemas, procuram soluções. E sexo. têm… vocês têm.
Eu bebo sozinha, penso sozinha e adivinha o que mais faço sozinha? Como uma comida esquisitinha que não sei fazer (minha filha também é refém da comida esquisitinha, mas agora estou falando de mim… não me tirem a paz do banheiro também), falo sozinha, assisto tv sozinha, acaba um filme, quero comentar, mas cadê? Olho na internet: A, tá trabalhando; B, tá cansado; C, tá dormindo; D, não entendeu o que falei e E, não respondeu. Pode ser que eu seja chata também. Há uma forte possibilidade. Também não sou de dar muito assunto a quem tem assuntos que seja, sei lá, essa quarentena é horrível.
Vocês ficam aí pensando que estão sendo amaldiçoados só aqueles que estão nos bares, se reunindo com os amigos, rostinhos colados nas foto (e sem máscara!), churrasquinho, futebol? Não, colega. Até a MINHA quarentena é questionável. Para os que estão lá fora, tô de palhaçada aqui dentro. Para os que estão sofrendo o confinamento (e isso não é um deboche, porque sei exatamente o que é, seja lá qual for sua condição…perceba nossas vantagens e desvantagens, que não tornam uma vida mais difícil que a outra). Então, coleguinhas quarenteners, vamos parar agora mesmo com essas notinhas de repúdio a, seja lá o que for que o outro coleguinha te desagradou? Essa semana saí pra fazer uma tatuagem, com todos devidos cuidados. Ora, é extremamente necessário? É comida? É farmácia? É alguém passando mal? Não. Mas, 7X1 pra você que tá fazendo sexo e eu não.
Ahhhh, mas é diferente. Sim, é diferente. Gozar não dá, mas respirar, dá.

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Obrigada pela sugestão, Biessa querida. Difícil falar de Quarentena sem ser/parecer repetitiva.