Querido Diário – #50

Ora, querido, hoje o dia está frio, chuvoso, e meu agasalho é um edredom velho velhinho. Eu disse que não te deixaria, e essa é uma das maiores provas. Tá entrando um friozinho pelas brechinhas dos braços, o que me faz pensar que lealdade só pode ser algo que levo muito à sério.

Na TV, tem live do Rogério Flausino e seu irmão Sideral cantando Cazuza. Cantando logo quem. Aquele que é certeiro tão dentro da gente.

Aliás, tive uma oportunidade linda de assistir com a minha filha a esse show, apresentado num dos palcos do Rock in Rio. Cantei todas, me emocionei, e quase achei que o noite já poderia terminar ali. Mas, Marina, munida de minhas frases e usando-as contra mim, disse: que morte lenta e horrível.

Ué, 13 anos.”Todo dia a insônia me convence que o céu faz tudo ficar infinito” my ass. Poesia a uma hora dessas, mãe? Tutch, tutch, tutch, tutch… lá fui eu pro palco eletrônico, para ser a mãe mais legal do mundo, já que estava acompanhada da filha mais legal do mundo. Afinal, me enganou direitinho. Deixou eu abraçá-la e tudo, cantar de olhos fechados. Quase acreditei na emoção recíproca. Nunca imaginaria que a atriz estava morrendo.

Mudando de assunto (não, não deixo você falar, desculpa), hoje tive um daqueles aborrecimentos incríveis, que vai pra uma lista bem especial que estou fazendo. Aproveito a oportunidade para pedir que não me mostre o seu pior na quarentena, ok?Porque eu tô anotando para não esquecer. Bem, anotar é só uma palavra que uso pra fingir que às vezes esqueço as coisas, como se eu fosse dessas pessoas boas.

Costumo dizer que há duas datas desumanas para fazer o mal a alguém: no dia do seu aniversário e no Natal. “Mal”, tá, querido? Uma apunhalada nas costas, uma puxada de tapete, um comentário maldoso… Esses desvios de caráter.  Aniversário é aquele dia que a gente espera (e merece!) ser tratado com todo amor do mundo. E, Natal é um aniversário coletivo. Então, fica na suazinha esses dias, tá? Não tenha o dom de estragar o dia feliz de alguém.

Ah, mas tem dia bom pra fazer o mal? Perguntou o cansativo engraçadão.

Tá, mas e a listinha da quarentena? Ora, meu amigo, a gente tá com a sensação de que tem um trator passando, indo e vindo, e a gente tá bem embaixo dele. Como sanidade tem sido um elemento valioso, claro que amor não é algo que a gente tá conseguindo distribuir. Mas, EMPATIA é fundamental.

Mas, amanhã falamos melhor sobre isso? Está tarde, e meu sono “tratado” já está levando meus pensamentos não-tratados embora. Se eu demorar mais um pouquinho, amanhã Marina me contará papos incríveis que tivemos, que provavelmente não lembrarei uma palavra.

1 Comentário

  1. Sahh disse:

    Nos intervalos entre idas e vindas do trator, tomamos nosso remedinho e fingimos que nada Tá acontecendo! (Qdo na vdd não há mais nada pro trator passar por cima) #DiasDificeisEsses

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