Querido Diário – #48

Sabe, querido, ainda estou aqui decidindo se estou triste. Feliz, não tô, não. Ora, não vou mentir justamente para você, exibindo um pouco da minha fé, e fazendo um discurso, quem sabe, otimista. Dizer que estou grata e feliz por estar viva, por ter saúde, e todas essas coisas que realmente deveriam ser o bastante para me deixar feliz. No entanto, sinto-me ingrata por neste momento não conseguir ser positiva e resgatar a minha fé. Mas, talvez seja uma boa notícia não ter a absoluta certeza da infelicidade.

Parece cocaína, mas é só tristeza. Ora, Renato, sou muito filhinha da mamãe para ter a empáfia de experimentar algo ilícito assim. Mas, acredite na disciplina e lucidez da filhinha da mamãe aqui, quando não aumento as dosagens lícitas, que tenho no meu criado mudo. Então, sem hesitar, é só tristeza.

Para de besteira. Que o sem tarja preta atire a primeira pedra.

O mais irônico é que ele vai atirar.

Como diria meu pai: Só existem dois tipos de pessoas no mundo: os que tratam sua maluquice e os que não tratam. Ele se isentava, e, principalmente, não permitia que alguém tivesse a ousadia de incluí-lo em participar de qualquer discussão da família. Ele dizia com orgulho: Eu me trato! E saía. (Mas, se a gente não parasse, ele voltava…mas voltava MESMO)

Uma vez meu pai chegou PUTO em casa, reclamando de um caixa de banco. Não avisei a ele que me trato, mas avisei que tenho atestado! Interprete aí a ameaça, querido Diário.

Claro que também sou daqueles que se tratam. Meu pai era sábio. Já tentei usar suas frases em vários momentos, mas não causam o mesmo impacto. Acho que o atestado de um psiquiatra que diz “Cuidado com o cão” tem mais peso do que o de um cardiologista que diz “Coraçãozinho com ódio”. Do cão as pessoas têm medo, né? Ô.

Nós, emocionalmente instáveis, não somos previsíveis, porque ninguém sabe exatamente o que estamos sentindo. Uma piada não perde a graça porque estamos tristes. Não somos bipolares. Não sentimos uma coisa ou outra, de uma hora para outra. Sentimos, desgraçadamente, tudo ao mesmo tempo. Há muitas emoções que não sabemos nomeá-las, e uma força sobrenatural para equilibrá-las. Somos solitários. Nos chamam de qualquer coisa pejorativa, e dizem que não somos exatamente suportáveis. Justificam dizendo que fazemos tempestades de copos d’água, mas não sabem que o tempo inteiro lutamos para que um pingo não nos transborde.

Pai, perdoai-vos, porque não sabem o que fazem. Eu não sou Jesus Cristo, desculpa. Não vou pedir perdão a Deus por você, que tá pouco se lixando pra minha cabeça fudida.

(Senhor, me perdoa por usar o Seu nome e um palavrão no mesmo parágrafo. Em minha defesa, eu tenho atestado.)

Nenhuma fase passa. O amor não vai embora. Nenhum deles. O ódio não vai embora. Nenhum. O tristeza não vai embora. Nenhuma. A alegria não vai embora. Nada. Você não liga, Você liga demais, Você não dá importância, Você dá importância demais. Você é intensa. Você é fria. Você fala demais. Você não fala nada. E quem, meu querido, você acha que sou afinal? Qual parte de mim você decidiu enxergar?

Quer um tempinho pra pensar?

Ou vai me rotular?

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