Sei que começo esse diário tardiamente, mas, em minha defesa, nem por um minuto a possibilidade de escrever fez parte do plano.
(Que plano? Foi uma palavra que usei para fingir que, em algum momento, tudo isso está sob controle.)
O dia é 42, e a foto é de uma xícara de café que tomei ainda pouco. Tenho feito do Instagram um diário. Imagens do simples, que normalmente não chamam minha atenção. Eu poderia até fazer um texto reflexivo falando sobre pequenos detalhes que estão perto da gente o tempo todo. Que, talvez, esse confinamento seja uma oportunidade que a vida nos deu para estrarmos em contato com a nossa essência, refletirmos sobre fé, amor ao próximo e lindos passarinhos na janela.
Até pensei sobre isso na primeira semana. Hoje, no dia 42, a última coisa que quero é escrever um texto significativo como legado para humanidade. O café de hoje, foi igual ao de ontem, que foi igual ao de anteontem, que foi igual ao dia #1. Mas, a cabeça da gente está na mais perfeita desordem.
Não cortei o cabelo, não fiz faxina, nem fiquei inquieta tirando tudo do lugar. Não existe em mim uma inquietação física. Sim, vai me dar trabalho perder esses quilos, que vão me castigar no dia que eu precisar usar uma calça jeans novamente. Mas, tive vontade de mudar meu sobrenome. Especialistas devem ter uma explicação. Mas o Means não é meu, e se você ainda não sabia disso, um dia conto essa história.
Tentei aproveitar o tempo abrindo uma tela em branco ou uma folha branca. Ora, a mente estaria igualmente vazia? No entanto, seria esquisito dizer que o suposto vazio da minha mente é invadido pelo tanto de palavras que tenho preguiça de desenvolver? (Hein?) Quando estou apaixonada até tenho uma certa facilidade em harmonizar palavras bonitas. Mas, detesto o compromisso ter que criar um texto inteligente, com um vocabulário mais refinado e concordâncias impecáveis. Bem, se esse confinamento tem servido para reflexões, cheguei a conclusão que a ultima coisa que quero na vida é ter, inclusive, coesão e coerência. E textos, infelizmente, me dão esse trabalho existencial.
Não escrevo ficção. Prefiro compartilhar meu coração, para, quem sabe, ajudar a algum outro, que precisa de uma tradução para o que sente. Mas, tem muita saudade em mim. Escrever sobre ela, é senti-la duas vezes. Eu achava que tudo que se chamava Saudade na minha vida era apenas o meu pai. Todo resto era algum tipo de falta. No entanto, hoje, no dia 42, consigo chamar de saudade o que sinto pelos meus irmãos, por exemplo, que não vejo há 42 dias. Então, nop. Não vou reviver 42 dias de saudade.
Quero escrever sobre a faxina que não fiz, dos quilos que ganhei ou de como olhar no espelho tem sido um teste de resistência. Quero falar mal das pessoas e de como são irritantes. Eu sou também, mas o texto é meu. Quero falar do dia que olhei pra varanda do meu quarto, sentindo uma brisa maravilhosa e botei um fone com uma música linda, mas meus olhos foram estuprados por uma luz, que só faltou uma buzina para eu achar que era um caminhão me atropelando. Algum vizinho imaginou que eu certamente buscaria um momento de paz, e apontou uma luz irritante pra cá. Sim, ele sabia que era eu. O universo disse pra ele.
(Não vou concluir, porque este é um texto mal escrito)
Acho que volto amanhã.
A quarentena me deixou mais preguiçosa do que eu costumo ser.
Sim! Agora fiquei curiosa…jurava q teu sobrenome era Means:)