Quais são as três palavras que descrevem sua família?

Felipe, eu e Rafa
Felipe, eu e Rafa

Danielle. Felipe. Rafael.

Os três filhos de Wagner e Evanilda, meus pais. Este é o nosso começo. Minha mãe tinha 16 anos quando conheceu meu pai. Ela veio de uma família muito grande: dez irmãos. E desde que meu avô falecera, vivia com a família de seu irmão mais velho. Meu pai tinha 20 anos, e um emprego razoável. Desde então a assumiu financeiramente. Quatro anos depois se casaram.

Aos vinte anos, minha mãe deu a luz a uma menininha: eu. Parece que o parto foi complicado, nasci desmaiada, e assim justifica-se eternamente a minha preguiça. Sete anos depois nasceu Felipe, numa época que meu pai estava bem financeiramente e foi tudo perfeitamente bonito.Rafa nasceu três anos depois, quando meu pai passava por uma terrível situação financeira, e se tornou alcoólatra. Segundo minha mãe, em dias nostálgicos, nasci numa noite de chuva; Felipe num lindo dia de sol; e, Rafa, numa tempestade durante a madrugada.

Nossa família é marcada por instabilidades financeiras e emocionais. Meu pai tinha um bom emprego, mas não sabia administrar seu dinheiro. Minha mãe, aparentemente, não tinha muita voz nas decisões, mas ela sempre teve um poder emocional forte em relação a ele, e isso o irritava. Isso quer dizer que, por mais que tivesse todo poder sob sua família, ele cedia em algum momento. Não por parceria, não por companheirismo, não por reflexão. Bem, a melhor explicação é que…ele gostava dela, né? Mas, não pensem que ele cedia com amor. Era uma briga danada.

Nossa família sofreu muito com seu alcoolismo durante anos, mas minha mãe sempre nos manteve juntos, principalmente como irmãos. Ajudou muito meu pai… costurava pra fora, fazia unhas das amigas, toalhas bordadas para vender…Enquanto o dinheiro ia embora com bebidas e todo estrago que ela faz. Depois que ele passou a frequentar o AA, ficou sóbrio, e a família recuperou sua paz de espírito. Claro que as marcas ficaram, e ele se culpou muito pelo resto da vida.

Felipe lhes deu a primeira neta, Gabriella. Morava todo mundo na mesma casa… Era uma loucura. Quatro anos depois eu tive Marina. Aí, não dava mais para ficar todo mundo junto. Aluguei um apartamento e fui construir minha família com minha filha. Felipe saiu e voltou algumas vezes, até que veio Júlia. Aqui a gente costuma dizer que neto é que nem Copa do Mundo: vem de quatro em quatro anos. Daí, chegou Vicente.

Hoje, moramos juntas: minha mãe, Gabriella, eu e Marina. Voltei numa época em que Rafa estava saindo.

Tivemos muitos problemas quando meu pai faleceu. Brigamos muito. Mais que qualquer outra época de nossas vidas. Nossa vida particular estava péssima. Eu estava quebrada por conta do Estado. Não consegui manter minhas despesas. Felipe estava num emprego que não suportava. E Rafa, que tinha seu próprio negócio, não pôde continuar, porque ou ele dava conta do seu trabalho ou ele cuidava de toda família. Foi ele que cuidou de tudo. Tudo que a gente não tinha força pra resolver. Ele que cuidou da minha mãe. Ele que resolveu toda burocracia. Não tínhamos tempo de “curar” o luto. O tempo, caríssimos, não para.Toda nossa vida estava indo pelo ralo.

Lembro que depois do enterro do meu pai, eu quis ir pra minha casa. Rafa me ligou e disse que ia pedir pizza, e perguntou qual sabor a gente queria. Eu disse que não queria comer e que ficaria em casa. O pai de Marina, que ficou conosco uns dias, depois prepararia algo para eles. Alguns minutos depois, todos foram para minha casa. Eu senti que eles não queriam me deixar sem eles. E, acredito que eles também precisavam de mim. E terminamos aquele dia tão pesado da forma mais reconfortante possível: jantando juntos e relembrando momentos engraçados vividos com meu pai.

#UmaPerguntaPorDia #Diário #Rascunhos

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