Com tantas mulheres “lutando pelo direito” de não serem mães, há aquelas que lutam pelo direito de serem em paz.
Em momento algum pensei na questão do aborto. A questão é o impasse que há entre dois lados que deveriam ter o direito de suas escolhas, independente dos motivos. Tenho amigas solteiras, preocupadas com seu relógio biológico. Mulheres fortes, independentes, que, por algum motivo que não sabem explicar, mas gostariam de ser mães. Tenho amigas casadas, que tentam há anos, e não conseguem engravidar. Assim como existem mulheres que estão muito bem com suas escolhas. Casadas ou solteiras, sem filhos e felizes com sua opção. Não tem papo de relógio biológico, e morrem de tédio com as cobranças das tias ou qualquer outra pessoa inconveniente que tenta impor um filho para sintam a sublime sensação ser uma mulher “completa”.
Particularmente, ser mãe não fazia parte dos meus planos. Eu não tinha paciência com amigas mães. Sair para almoçar com filho é um pesadelo. Não dá para conversar sem ser interrompido. Criança quer água, quer fazer xixi, quer qualquer coisa que você não quer participar. E para falar a verdade, até hoje, sair com amiga com filho SEM a minha filha, nem pensar. Eu que não vou ficar me fazendo de mãe compreensiva com o próximo, justamente no meu momento livre.
Sim, criança é muito chato. Criança chora e depende de você para tudo. Enquanto Marina usava fraldas e tomava mamadeira, eu me sentia a mais corna do mundo, carregando uma bolsa de bebê para cima e para baixo. Ali tem fralda, Hipoglós, lenço umedecido, água, leite, brinquedinhos (que eles odeiam já), toalhinha de mão, chupeta e roupas extras. E eu como sou solteira (e sem carro!), sempre carreguei Marina e a bolsa sozinha. Ninguém tinha paciência. E na praia? Nem te conto.
O cansaço físico e emocional é indescritível. Se Marina fica doente, eu não durmo. Não só porque estou cuidando dela, mas também porque fico angustiada. Enquanto ela não melhora, parece que eu não respiro.
Já li alguns textos de mulheres que não acreditam em mães felizes. Mães são seres exaustos, que deixam de cuidar de si, que abrem mão da sua independência, deixam de ser livres, escravizadas pela maternidade, tadinhas.
Olha, não deixa de ser verdade. A princípio a gente fica tão exausta, que os poucos minutos que “sobram” a gente só quer dormir. Perde-se a vaidade e a certeza de que aquela vida LOKA que tínhamos, virará histórias incríveis para nossos lindos netos.
Mas, por outro lado, existe uma história lá no final daquele armário que você entrou para se esconder. Uma espécie de Nárnia. A primeira vez que ouvi o som do coração da minha filha foi a sensação de amor mais indescritível de toda uma vida. Dizem que é maravilhoso voar de asa delta, que é uma experiência incrível. Acho que ser mãe é essa experiência radical. Porra, criança chora pra caralho. Tem que dar de mamar, tem que dar banho, tem vacina, tem pediatra, tem não sei o quê que aparece do nada e tem que correr para emergência. Tem gripe, tem febre, tem nebulização. Tem que se VIRAR para dar remédio, porque a criança chora, cospe, vomita. Aí, corre de volta para o hospital, e arruma uns três enfermeiros lutadores de UFC para conseguir segurar a criança para dar injeção. E mais: minha filha me olha do tipo “você me traiu”.
Não, eu não amo ser mãe exatamente. Eu amo DEMAIS a minha filha. Amo ver minha filha feliz. Amo fazê-la feliz. E eu nunca soube de histórias de amor que fossem fáceis. Posso fazer uma lista infinita de “contras”, mas te dou apenas uma razão para ser mãe: todo amor que a gente sente.
No começo é mais difícil e cansativo. Porém, à medida que a criança vai crescendo vai ficando mais fácil. Elas ficam mais independentes… Mais caras também! Consequentemente, a gente vai se moldando à nova vida. Volta a vaidade, o tempo pra gente, para os amigos… E Marina já sabe que também gosto de gastar dinheiro comigo, e que espere a minha vez. Ela é minha melhor amiga e melhor companheira. DE VERDADE. Adoro levá-la para passear… Mas, apesar de sob um forte olhar de pressão e traição, não, hoje mamãe não vai levar você. Sim, a gente se consegue de volta!
Ninguém mente quando diz que é feliz com sua escolha… Só aquelas pessoas que precisam subestimar as escolhas dos outros como justificativa.
Se seu relógio biológico tem te incomodado, eu te diria para não pensar nisso, não. Ser mãe dá um trabalho danado! Para quem quer uma nova fase da sua vida conjugal, um amor em comum, eu diria que é isso aí! E para quem diz que não quer ter, é isso aí também! É isso aí para todas as escolhas e motivos! Mas, por que não falar o mesmo para a outra preocupada com a idade? Porque ela está preocupada com a idade! É outra discussão. Quase a mesma que o medo de ficar solteira para sempre. E sobre isto falaremos outro dia.
Bem, agora preciso parar de escrever, porque Marina quer usar o computador. Não tem outro, não? Tem, mas ela gosta deste aqui. (Ah é, tem hora que ela acha que manda em tudo)
Eis a questão .. cabeça um bilhão de pensamentos !!
Vou esperar um pouquinho para ter uma razão para ser mãe, como você diz: “todo amor que a gente sente”.
É o amor MAIS LINDO, MAIS GOSTOSO e MAIS RECÍPROCO DO MUNDO! ;-)