Percebi que meus olhos estão abertos. Tudo continua igual. As horas ainda parecem dias. O telefone tocou, a campainha, minha filha chamou, minha família, meu trabalho, meus amigos.
Existe uma estreita diferença entre querer morrer e não querer viver. E eu não queria mais, se eu pudesse. Queria que tudo parasse, mas existe tanta vida em minha volta, que ela me chama o tempo todo para levantar. Estou viva. Por mais que isso pareça inacreditável, meu coração continua batendo. Fraco, mas muito, muito vivo.
Há uma solidão em mim, que não me incomoda. Ela é responsável por várias horas de TV e leitura. Não mais a escrita. Mas, não sou triste. Bem, talvez eu seja. Relações, de qualquer natureza, não fazem parte das minhas (poucas) habilidades. Só vejo meus amigos quando tenho vontade. Na verdade, todos são assim… a diferença entre nós é que eu quero pouco. Minha família também reclama sobre minha falta de amor. No enterro do meu pai uma tia me disse que uma vez ele (meu pai) lhe disse que me achava igual a ela: fria. Eu não sabia que meu pai me achava fria. Essa descoberta não me entristeceu. Ora, talvez meu pai tivesse razão.
Em minha defesa digo que não é por querer. Já tentei explicar de diversas formas, porque é importante para mim que as pessoas que me amam saibam que as amo também. Descobri que não é que eu não dê importância às pessoas. Eu não gosto é de sair do meu ninho, e dificilmente gosto que tenham acesso a ele.
Acho que depois que tive Marina meu amor foi tão canalizado, que não consegui mais dar conta de ninguém. Minha filha, graças a Deus, se sente muito amada e feliz. Até porque ela faz parte do ninho. Aliás, de uns tempos pra cá ela acorda de madrugada, levanta e vem na cabeceira da minha cama me dar um beijo na testa. Não chorem com que vou dizer, mas desde então acho que é meu pai me beijando.Talvez seja uma grande besteira, mas viu, pai, eu não sou fria não.
Opa, esse texto não é para ser triste.Mas a gente que lida com uma perda dessa dimensão, pensa muito no sentido da vida. E meu coração está tão preenchido pela força que faz ele bater, que não consigo me dar ao luxo de ser infeliz.
Com tanta coisa importante no mundo, resolvi trocar minha foto de perfil do Facebook, pela foto do Leonardo DiCaprio, me juntando à galera que torce para que ele ganhe o Oscar. O que isso significa pra mim exatamente? Ora, porra nenhuma. Mas, eu ri. Quero que ele ganhe, mesmo que isso não signifique absolutamente nada. Quero brincar. Quero ir num show do Paul McCartney de novo. Quero comer comida japonesa.Quero ir pra praia. Quero assistir Friends.Quero uma sobremesa maravilhosa, e não vou sentir culpa! Aliás, não vou mais sentir culpa de nada. Meu coração não bate pra isso.
Não estou forte, mas estou viva. O coração está pesado, mas o sorriso é sincero.
Dani, eu sinto mto pela sua perda e posso imaginar o tamanho da sua dor. É ótimo que o sorriso esteja aí, e seja sincero, e a força, a gente só percebe com o tempo. Um grande abraço!