Esse texto não é uma retrospectiva de 2014. Mentira, é sim. Mas, prometo que, apesar de toda probabilidade, não vou te cansar. Até porque, se você faz parte dos meus 14 leitores do mundo inteiro, e lê os meus textos até hoje, é porque, além de acreditar em Papai Noel, me acha irresistível.
Então que hoje, conversando com meu pai, após várias reflexões, ele me alertou sobre uma supersticiosa falta de sorte cármica. Não se verbaliza um desejo. Dizem que dá azar. Por isso relutava em me dizer algo que desejava que desse certo para mim. Não contou para ninguém, receoso, para proteger o que lhe era valioso. Daí que, pela primeira vez na vida, como se não acreditasse em desatinos, respondi: tem problema não, pai…o vento tem andado a meu favor… pode me contar.
Inédito. E incrível.
Sempre julguei meus anos como uma sucessão de caos, misturados com uma terrível sensação de que o universo era uma piada. Aliás, a piada era eu. Não, não! Não se trata de um drama existencial. Não desta vez. Apenas perdi a identidade. Fiquei perdida no meio do furacão. Consequentemente, parei de escrever, e com a mais sincera resistência, confesso que desaprendi. Minha escrita não amadureceu comigo, meu vocabulário não renovou e tudo parecia um filme repetido, assistido e escrito tantas vezes. Acho que infeliz nunca fui, mas esse filme estranho, que me recuso a reescrever, já estava cansativo.
Que fique claro que meus verbos no passado não mudaram o filme, mas tenho a impressão de que deixei o filme no mudo, e por uma falta de opção física ou emocional, liguei o rádio. No meio de tanta teoria, quem sabe se quem canta os males espanta?
Tenho o hábito de usar fones no ouvido para distrair os pensamentos e ignorar o que não quero ouvir, como pessoas desconhecidas que puxam assunto ou as conhecidas que puxam também. E esse hábito me serve como analogia para um suposto fone de ouvido que o universo me deu, provavelmente no Natal passado, porque em 2014 fiz tanta coisa legal, cumpri tantas promessas que me fiz! Aliás, se você nunca cumpriu uma promessa que se fez, por favor, experimenta! Me dei um monte de presentes. No Dia das Mães o presente foi da minha filha. Cantei as músicas mais lindas do planeta, num coro apaixonado, regido pelo Paul McCartney. Não tive medo do “não”. Me acabei com vários “sim”. Só não consegui começar a dieta segunda-feira, porque, né? Comer é bom pra c*ralho.
Talvez o cosmo tenha me perdoado, porque finalmente eu admiti que sou/estou perdida. Ou um caso perdido? De qualquer forma, me perdi e decidi que vou ficar por aqui mesmo. Poetas dizem que a gente não pode se conformar, mas eu não sou poeta, e o mundo, pra mim, sempre foi uma bagunça. Então, me dou ao luxo de me conformar, e ficar. Eu sou essa pessoa que você conhece e reclama. Aliás, céus, como reclamam! Bem que tentei mudar, mas não deu certo. Chegou a hora de você também se conformar. Daqui eu não saio mais.
Não tenho planos para 2015, mas já tenho algumas ideias. Meu pai não me aconselharia verbalizar desejos, e eu não me atreveria contrariar tal sabedoria milenar, mas já que o vento tem sido meu amigo, arrisco desejar um 2015 cheio de NA NA NA NA NA pra mim. E pra você.
Hey, Jude, don’t make it bad
Take a sad song and make it better
Remember to let her under your skin
Then you’ll begin to make it better.
Paul McCartney