Não acho saudável lembrar arrependimentos. Isso traz sentimentos de culpa, do poderia ter sido/feito/dito diferente. A gente se sente frustrado e impotente. Quantas vezes nos pegamos remoendo algum detalhe do passado? Ah, se eu pudesse voltar no tempo…
Em “Homem do futuro”, Wagner Moura faz um personagem amargurado, que culpa o passado por ter se tornado quem é. Decide, então, dedicar sua vida à criação de uma máquina do tempo, e voltar àquele exato momento onde caiu. Àquele exato momento onde poderia fazer tudo diferente.
Não quero voltar o tempo e consertar nada. Mas, é claro que me arrependo de infinitas frases que já disse, e outras milhares que deixei de dizer. Ah, se eu pudesse voltar no tempo… Decisões erradas, precipitadas, impulsivas, que me custaram um preço que eu não queria/poderia pagar. Mas, hoje vou arriscar em lembrar um momento inusitado: aquele que escrevi o que não deveria. Não sei se serve para colocar numa máquina do tempo, mas já está valendo pela prosa.
Certa vez, eu estava no auge de uma conversa com aquele alguém que há tempos fazia parte da minha lista de sonhos. Não custava ganhar um daqueles de presente, simplesmente por ser uma boa mãe e honesta praticante. Depois de anos (sim, anos!) ele estava finalmente me dando espaço, me convidando para entrar no seu castelo. Bem, primeiro eu, depois ele, certamente. Porém, quando estava com o pé direito na porta, já levantando o esquerdo para seguir em frente, lembrei de um texto que eu havia escrito ingenuamente no passado, e achei que seria simpático lhe mostrar. Um texto que eu julgava engraçado, confessando aos meus leitores, meu “amor” platônico por alguém maravilhoso que eu havia acabado de conhecer: ele. Veja bem, não há um ser humano no planeta que não se sinta lisonjeado com um texto que seja inspirado nele. Mesmo que ele tivesse a emoção de uma beterraba, o ego não aguenta. É 100% de acerto. É passe não só para abrir portões de um castelo. É abrir e ganhar tapete vermelho, meu amigo. Mas, de repente, antes da meia noite, a carruagem virou abóbora. Contrariando todas as leis da física e dos poetas maquiavélicos – que usam seu dom em seu próprio benefício – o sonho acabou. Não sei o porquê, mas ele não gostou do texto.
Fiquei me perguntando, por que, meu Deus, fui lhe mostrar o texto justamente naquele momento? Por que não tive essa ideia DEPOIS ou… NUNCA? Não é algo que eu dedicaria minha vida na construção de uma máquina do tempo, mas fiquei dias com minha cabeça ocupada, e, rindo, claro. Deus só podia estar me castigando. Logo eu, tão Cinderela.
Não assisti ao filme do Wagner Moura até o final. O assunto até me fez repensar em alguns erros e na oportunidade de corrigi-los. Mas, no fundo, o que seria de mim sem meu poder de escolha? Talvez aquele tenha sido o momento certo de errar.
Estou eu aqui, neste exato momento, de frente para o mar realizando o sonho de escrever ao ar livre. Acabei de pedir um suco de laranja para combinar com a natureza. Quem sabe o que poderia ter sido de mim sem todos os meus arrependimentos? Melhor ou pior, não sei… mas estou bem, obrigada.
Dia 20: Uma foto que represente um arrependimento
Quanto às portas do castelo, enquanto há vida há esperança – e tempo. Quem sabe?
Eu remoo milhares de pedaços do passado. Todo santo dia. Geralmente termino o “flash back” com um tapa na testa.
Mas… tb não dedicaria a construção de uma máquina do tempo para nenhum desses momentos humilhantes.
É tudo válido.
(Principalmente de frente ao mar!)